Thursday, September 14, 2006

Resposta a 6 mãos

Não. A palavra amor, não!

Perdeu o sentido, hoje que tudo o perdeu, mas não temos ainda uma outra palavra que o substitua.

Porque todo o amor
é uma irrealização dele. Se se realiza, já não serve. Imagina que alguém diz da sua mulher com quem casou há trinta ou quarenta anos, que lhe tem amor. Todos o cobririam de gargalhadas. Ou de uma ternura piedosa como se tem com as crianças ou os tolinhos. Se todavia a perdesse, já seria viável que a amasse. Mas então era no imaginário que a amaria. E o mais provável não era recordá-la na sua velhice mas na intemporalidade do seu absoluto impossível. Na eternidade dela. Talvez num tempo em que fora ainda jovem, que é quando o amor tem mais razão de ser. Amar no eterno, que é onde revês também a pessoa que amaste.

E depois dá-se o milagre. O amor pode chegar. Mas o milagre acontece ou não e é tudo. Nem é
natural que aconteça. E é por isso que é milagre. Há quem não acredite e está bem assim. E há quem só acredite e ainda é melhor assim. Como em tudo é preciso ver para crer. Mas não é preciso, menos ainda obrigatório, é uma graça que só vem se quiser, quando quiser e pelo tempo que quiser e é o melhor de tudo o que possa acontecer. O amor pode chegar.

Mas e daí talvez a palavra amor seja apenas o subtil instrumento para ajudar a correr o tempo quando ao redor só há desejo e medo e todos os sítios onde se procura refúgio estão em chamas. Talvez seja a palavra mais bela e com ela nos enganemos.

O amor que se escreve com as letras iguais da morte.


*V. Ferreira, Pedro Paixão e eu, a responder-te a ti.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

simplesmente assim

14/9/06 2:55 PM  

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