Friday, October 20, 2006

Livro de Estilo #15

"quotidiano" = Não tentes compreender a essência do quotidiano. Porque ele existe apenas na repetição contínua e desprovida de si mesmo, executada no atenuar do sentido para além da zona limítrofe da tua compreensão. Sobram apenas, já te disse, paisagens inúteis, que não deves tentar tocar. Há muito que perderam o sabor, desenhadas entre bocas e corpos de olhares vazios que se movem numa valsa de monotonia.

Não ofereças resistência. É o melhor conselho que te posso dar.

Escreve os teus sonhos num papel e guarda-os numa gaveta ou cofre ou sentimento e gesto escondido. Deixa que a mediocridade te possua como um vírus suave, aparentemente inofensivo. Mas nunca te esqueças desse papel. E um dia, quando os teus olhos e o teu corpo e a tua boca se começarem também a mover languidamente nessa valsa da monotonia, abre a gaveta, e deixa a humanidade entrar.

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3 Comments:

Blogger carlos paulo said...

"e um dia..." poderá ser tarde demais (if you ask me).

20/10/06 10:05 AM  
Blogger Miss Japa said...

e não podíamos estar mais de acordo...

20/10/06 10:56 AM  
Blogger Luis Spencer Freitas said...

O problema é se, nessa altura em que regressamos ao "cofre", os olhos e a mente não estarão tão consumidos pela mediocridade, que acabamos por censurar nós próprios os nossos sonhos, tomando-os como "divagações infantis".

20/10/06 12:43 PM  

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