Saturday, March 01, 2008

os sapatos vermelhos

os passos a ecoarem rápidos no chão ao ritmo da hora marcada. De repente o carro e as pessoas que traz dentro. O homem que sai, batendo com a porta e se dirige ao jardim, atravessando-se no caminho dos passos dentro das pequenas botas pretas que estancam, surpreendidas na agressão insólita do gesto.

Viram-se, para ver os pés do homem, enfurecidos nuns mocassins de meia idade, a olhar o jardim, com as mãos, todas elas nós de dedos, fincadas na cintura. Não dão pelas botas, só pelos sapatos vermelhos que ficaram ainda, altivos e desafiadores, dentro do carro, e os fazem exclamar, em jeito de suspiro desabafado, quase sem dar por isso "Foda-se, merda de puta mentirosa". Giram sobre si mesmos e regressam ao comodismo dos tapetes do carro pisados tantas vezes pelos sapatos vermelhos.

As botas pretas retomam o seu caminho enquanto pensam - o amor é fodido. Mas pior ainda é chegar a meio da vida sem saber o que isso é.

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