Contos de uma Cinderela pós-moderna
Deslizava pela rua com o seu passo apressado de piquena commuter de centro urbano, pousando delicado pé de chinesa após delicado pé de chinesa sobre as agruras temperamentais da calçada portuguesa, quando, de repente, entre um encontrão e um sinal, eis senão quando o seu sapatinho fashion não cristal se resolve a permanecer, de tacão e ideia fixa, entre uma pedra e outra, deixando-a de pernita suspensa no ar.
No espaço de nano-segundos - que na vida moderna o relógio ainda marca as horas, como na história tradicional - a respiração susteve-se-lhe na ameaça iminente do contacto com o chão frio e húmido da pouco higiénica rua matinal, mas, de repente, a escassos milímetros da profanação do seu sagrado pezinho envolto em meia de lycra opaca, surge o seu príncipe encantado, que lhe estende um forte braço de apoio e salvação.
Ela, enlevada de gratidão, levantou os olhos em direcção a quem assim tão prontamente vinha em seu auxílio e viu-o.
Viu-o debruçando-se, com algum sofrimento, amaldiçoando as cruzes, em direcção ao seu sapatinho, que delicadamente lhe estendeu entre um:"não se preocupe" e outro "está bem menina?".
Ao que a moderna Cinderela, respondeu, com cara de abóbora, meia enternecida pelo gesto, mas incapaz de disfarçar a surpresa de um salvador que de branco só tinha cabelo: "Muito obrigada".
No espaço de nano-segundos - que na vida moderna o relógio ainda marca as horas, como na história tradicional - a respiração susteve-se-lhe na ameaça iminente do contacto com o chão frio e húmido da pouco higiénica rua matinal, mas, de repente, a escassos milímetros da profanação do seu sagrado pezinho envolto em meia de lycra opaca, surge o seu príncipe encantado, que lhe estende um forte braço de apoio e salvação.
Ela, enlevada de gratidão, levantou os olhos em direcção a quem assim tão prontamente vinha em seu auxílio e viu-o.
Viu-o debruçando-se, com algum sofrimento, amaldiçoando as cruzes, em direcção ao seu sapatinho, que delicadamente lhe estendeu entre um:"não se preocupe" e outro "está bem menina?".
Ao que a moderna Cinderela, respondeu, com cara de abóbora, meia enternecida pelo gesto, mas incapaz de disfarçar a surpresa de um salvador que de branco só tinha cabelo: "Muito obrigada".
4 Comments:
Miúda, de longe o melhor post que publicaste até hoje aqui no estaminé!
Desculpa a minha ausência, mas a vida não está fácil! Sim, sim, já sei o que vais dizer, só aquela que dá um novo sentido à frase, mais longe e mais perto! E também já sei que qualquer dia desiste de mim, mas eu nunca perco a esperança!
Ah, já a agora, quanto à abóbora, essa é a carruagem da cinderela, e não a cara dela, o que não quer dizer que ela não possa ser redondinha como um tomate!
e achas mesmo que eu não sei que a abóbora era a carruagem e não a cara da dita cuja? era só uma figura de estilo minha cara senhora, não se apoquente com os preciosismos!
o meu príncipe preferido de entre todos os príncipes encantados é o príncipe da cinderela. não me parece que mais nenhum outro seja tão descaradamente fetichista.
(e continuo no mesmo sítio, irra)
e se eu com a cinderela partilho a perda de sapato, já com esse fetichista príncipe confesso que não partilho, nem por um dedinho que seja, a obsessão por pés.
E já agora: como é que se chama cada uma dessas taras e manias?
Post a Comment
<< Home