Tuesday, November 08, 2005

Crónica de uma crise anunciada

>> Disco Pedido: "Emigrante, emigrante" (EnaPá 2000)


Food for Thought:


- Portugal é o país da Europa onde ser verifica o maior fosso entre ricos e pobres

- as 100 maiores fortunas nacionais constituem 17% do PIB

- 20% dos mais ricos representam 45,9% do rendimento nacional

-1 em cada 5 portugueses vive no limiar da pobreza (21% da população total)

-12.4% da população activa (5531.6) ganha o salário mínimo nacional (374,7€)

-7,2 % da população activa está desempregada; 55% são mulheres

-26,3% dos reformados recebe menos de 200€/mês de reforma

-147 332 recebem o Rendimento Social de Inclusão (151,84€)

- em 2003, 69% dos beneficiários do Rendimento Social de Inserção, eram mulheres

-79,4% da população activa não terminou o ensino secundário

-300 mil famílias (8% da população) viviam, em 2001, em habitações sem condições mínimas

- Os homens auferem salários em média 9% superiores aos das suas congéneres femininas

Fonte: relatório publicado em Outubro de 2005 pela Oikos



Entenda-se, o problema não é o salário de que a senhora aufere. Sou apologeta da remuneração adequada às responsabilidades das funções, habilitações e experiência dos funcionários. Acredito que a maioria dos licenciados são, mais do que mal-pagos, sub-pagos. Isto é, quando têm sequer a sorte de ser remunerados. De aumentar a fileira cada vez mais revoltantemente monstruosa das pessoas com habilitações superiores que auferem menos de 750 euros por mês; ao invés de se acumularem aos números pouco conhecidos mas que, por experiência e observação concluo provavelmente ainda mais impressionantes do sub-emprego que afecta esta franja da população que ainda opta por estudar. Longe de sermos um país de doutores - como o diz que disse geralmente diz - somos um país em que mais de 75% da população não terminou sequer o ensino secundário. Onde, no admirável milénio novo, o analfabetismo ronda ainda os cerca de 9% (dados de 2001 - oikos).

No entanto, a possibilidade de arranjar um emprego digno de tal designação, onde a remuneração corresponda a mais de dois salários minimos efectivos, parece cada vez mais inversamente proporcional ao grau de habilitações académicas. E se os requisitos de entrada no mundo profissional se acumulam - experiência anterior em funções similares, licenciatura, conhecimento de várias línguas estrangeiras, dominio de novas tecnologias etc etc - a esta escalada de exigências não corresponde - antes pelo contrario - uma escalada na remuneração de quem as possui, face a décadas anteriores.

Não critico o elevar dos padrões. Creio que este é, aliás, cada vez mais necessário. Não critico sequer o salário - até por não conhecer o curriculum vitae da senhora - de que aufere a nova assessora. Critico sim a situação de precaridade em que vivem cada vez mais recém - e já não tão recentes assim, uma vez que é frequente encontrarmos pessoas licenciadas há mais de três anos com salários que rondam os 750 euros mensais, desempenhando funções de responsabilidade e prestígio, praticamente isentas de horário - licenciados.

Este não é o caminho para a elevação de competências da população enquanto todo. Não é o caminho para o futuro. Quer individual, daqueles que após 4,5,6 anos de estudo se vêm, na sua vasta maioria, privados da possibilidade de adquirir uma casa, de suportar uma vida independente, sem auxílio de outrem - regra geral as famílias em condições para o fazer - quer colectivo. De cada um e do país.

A comprovar isso mesmo, estão os resultados recentemente publicados por outro estudo internacional que demonstram que cerca de um quarto dos licenciados portugueses opta por emigrar em busca de melhores condições de vida.

Em contrapartida, recebemos imigrantes maioritariamente não qualificados.

O saldo da balança nunca poderá ser positivo. Mais - e não nego a sua importância pois acredito num modelo de sociedade multi e intercultural, à semelhança do Canadiano - do que políticas que visam auxiliar os que para cá vêm, creio ser já tempo de auxiliar também os que cá estão e querem ficar.

Ao invés de adiar reformas, deve-se apostar numa juvenilização dos quadros, em carreiras etápicas progressivas que permitam uma reciclagem de quadros empresarias e institucionais, já utilizados - com enorme sucesso - por tantas firmas privadas. Criar políticas de ingresso que visem criar condições de permanência no seu país de origem àqueles que apostam na educação académica e profissional. E não programas de estágio - soluções temporárias para camuflar a realidade das estatísticas dos jovens qualificados no desemprego.


Caso contrário cada vez teremos mais Lindas de Suza - que em vez da mala, carregam consigo para fora do país o nosso capital intelectual, sob a forma de canudos de cartão.

3 Comments:

Blogger carlos paulo said...

Pois é, escrevedora. Concordo. Mas a minha luta tem sido outra, do tamanho da minha realidade. Às vezes acho que muitos dos que partem bem podiam ficar e forçar as coisas mais um bocadinho. Às vezes parece-me que escolhem a saída mais fácil.

9/11/05 4:20 AM  
Anonymous Anonymous said...

Pronto, pronto, é só para veres que passo por cá e que leio o que escreves. Já agora, já tratavas de activar o anti-spam para os comentários, podes saber como se faz na ajuda do blogger!

13/11/05 5:31 AM  
Anonymous Anonymous said...

bom comeco

20/11/09 6:37 AM  

Post a Comment

<< Home