Wednesday, November 30, 2005

A minha pátria reinventada

>> Disco Pedido: "Pessoa" (Wordsong)

Paranóico. Esquizofrénico. Brilhante. Louco. Sim, louco, porque quis grandeza qual a vida não dá. Do tamanho de um olhos ébrios - sem beber, talvez - que viam mais do que a sua altura, abarcando um mundo conquistado mesmo antes de sair da cama por sucessões, sobreposições, criações de poetas gerados do ventre de si mesmo e de um outro que não é nada. E é tudo. Nascido do delírio de quem tem em si todos os sonhos do mundo, na janela de uma casa com vista de fronte para a Tabacaria em cuja vidraça se reflecte a beira do rio onde Lídia repousa, visitada pelo real-irreal delírio amoroso de cartas ridículas de uma Ophelia fugaz. Crescendo à sombra do desassossego de um guardador de rebanhos que se queria futurista e repleto de uma metafísica que cedo se lhe revelou insuficiente: a de não pensar em nada.

E é esta a Mensagem que nos deixa e que hoje se relembra, reinventando-se Pátria da Língua através da viagem pelo Som: a da imensidão da Pessoa, crescida, criada e criadora nas alfombras de um baú já mito. O Nada que é Tudo. Interminável na imensidão de um vislumbre onde se perdeu já a origem e não se acha o fundo. E assim cria pela palavra uma existência de papel além da vida que dura, num novo delírio agora, talvez. Setenta anos depois do tempo em que festejavam o dia dos seus anos e era feliz e ninguém estava morto.

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