Livro de Estilo #10

casamento = é expectativa defraudada. Felizmente. Porque já não há mulheres dispostas a "cumprir com o dever de esposa e mãe de cuidar da casa e dos filhos". Ainda que permaneça nos homens - quer admitam quer não - a esperança de que o aceno disfarçado de modesta submissão protocolar da noiva, durante a cerimónia, em resposta a estas palavras, possua algum resquício de verdade.

Bem como uma vontade de um semi-macho alfa dos tempos que correm, agrilhoada no aprumo da gravata cor-de-rosa, de ser, realmente "o esposo capaz de assegurar o provento da casa."


Papéis-tipo à parte, o casamento é como uma oitocentista ida à ópera: cuidado cenário para ver e ser visto.

Dos impostos

Todos os meses faço contenção na fonte.

(contenho a raiva, a irritação e o palavreado menos próprio, ao calcular o valor que da retenção é sinónimo).

Plagiar é implicitamente admirar #1

POESÍA VERTICAL, 14

He encontrado el lugar justo donde se ponen las manos,
a la vez mayor y menor que ellas mismas.

He encontrado el lugar
donde las manos son todo lo que son
y también algo más.

Pero allí no he encontrado
algo que estaba seguro de encontrar:
otras manos esperando las mías.

Roberto Juarroz

Constatação

Tenho uma alma snob presa a um quotidiano tributável.

To Huxley, with love #1

Second Life

Como seria se tivéssemos uma segunda vida, onde fosse possível ser aquilo que quiséssemos, conhecer outras pessoas, comprar casas ou montar um negócio que nunca foi possível na vida real? O Second Life dá a aos cibernautas a oportunidade de uma segunda vida. Virtual, claro. O mundo do Second Life é completamente tridimensional, as pessoas podem escolher a sua personagem (o que inclui animais ou seres mitológicos) e simplesmente viver uma vida paralela. A inscrição gratuita tem algumas limitações, como a impossibilidade de comprar terrenos para montar uma casa, mas é o suficiente para permitir uma vida virtual. O Second Life é destinado apenas a adultos, havendo uma versão própria para adolescentes.

in Publico

Bandas Sonoras para Grandes Momentos

Se eu fosse uma música do José Cid...
cantava-te adeus ao ouvido, abraçava a mala de cartão e desaparecia rumo aos Estates, enquanto tu sussuravas entre suspiros, entrecortando o gesto emigrantó-trágico da minha partida:
"És o meu Grande Grande Amor".

Muito. Pouco.

os olhos reflectidos na luz desenham ainda os destroços dos sonhos. e por dentro, os malmequeres do peito dela crescendo em persistentes vazios floridos no peito dele. Pétala a pétala, a palavra partilhada na origem de tudo, tropeçada em quotidianas necessidades de ele ser ele e ela ser ela. Depois o desespero das linhas de malmequeres paralelas, e ele e ela, assim tão humanos, sem se saber tocar. no infinito.

Fim de dia, impulso de manhã

Há quem nos faça sorrir, sem ser de um modo tão incredulamente sarcastico quanto costumeiro.

Recado

abre a janela. a paisagem respira os teus braços em torno do meu corpo. regressamos sempre. às árvores mortas deste outro Outono.

Retro-aconselhamento sentimental dos anos 80*

Não olhes como quem vê.
Não vejas como quem pensa.
Não penses como quem sente.
Não sintas com quem confia.

Não confies como quem olha aquilo que nunca se pode ver, pensando que no sentir se supera a cegueira.


*"Do as I say, Don't do as I Do".

Do umbigo

"Friendship", wrote Oscar Wilde, "is far more tragic than love"

já nao sei é se concordo com o remate "It lasts longer".

Livro de Estilo #9

Crescer = Chegar a adulto, é ver ainda por cima do ombro, num contínuo movimento de trás para a frente, o sorriso da infância.

Tenta não esquecer esse gesto pueril. Deixa que em velho te refine ainda o contorno dos lábios.