Wednesday, November 30, 2005

A minha pátria reinventada

>> Disco Pedido: "Pessoa" (Wordsong)

Paranóico. Esquizofrénico. Brilhante. Louco. Sim, louco, porque quis grandeza qual a vida não dá. Do tamanho de um olhos ébrios - sem beber, talvez - que viam mais do que a sua altura, abarcando um mundo conquistado mesmo antes de sair da cama por sucessões, sobreposições, criações de poetas gerados do ventre de si mesmo e de um outro que não é nada. E é tudo. Nascido do delírio de quem tem em si todos os sonhos do mundo, na janela de uma casa com vista de fronte para a Tabacaria em cuja vidraça se reflecte a beira do rio onde Lídia repousa, visitada pelo real-irreal delírio amoroso de cartas ridículas de uma Ophelia fugaz. Crescendo à sombra do desassossego de um guardador de rebanhos que se queria futurista e repleto de uma metafísica que cedo se lhe revelou insuficiente: a de não pensar em nada.

E é esta a Mensagem que nos deixa e que hoje se relembra, reinventando-se Pátria da Língua através da viagem pelo Som: a da imensidão da Pessoa, crescida, criada e criadora nas alfombras de um baú já mito. O Nada que é Tudo. Interminável na imensidão de um vislumbre onde se perdeu já a origem e não se acha o fundo. E assim cria pela palavra uma existência de papel além da vida que dura, num novo delírio agora, talvez. Setenta anos depois do tempo em que festejavam o dia dos seus anos e era feliz e ninguém estava morto.

Saturday, November 26, 2005

Da leitura e dos nabos

>> Disco Pedido: "A Portuguesa" (Alfredo Keil/Henrique L. Mendonça)

Que Portugal é um país de parcos leitores de imprensa, já nós sabemos. O que talvez escape à maioria - habituados que estamos a depreciar-nos face ao território ibérico imediatamente a norte ou à direita (não ideologicamente falando claro está!) da nossa fronteira - é que em Espanha se passa exactamente o mesmo.

Com hábitos de leitura de imprensa que rondam os 10% da população, a média de nuestros hermanos fica aquém da da maioria das economias emergentes de países como a Polónia ou a Eslováquia.

Mais uma vez, a Iberia une-se não necessariamente pelos melhores motivos - a similitude relativamente a alguns problemas estruturais. E, também novamente, diferencia-se pelas diferentes reacções a esses problemas estruturais: pioneiros na introdução do fenómeno da imprensa grátis distribuída nos transportes, os espanhóis revelam mais uma vez a sua capacidade de identificar necessidades, oriundas de questões societais de fundo, bem como de procurar encontrar e implementar medidas inovadoras para ir de encontro a esses nichos de mercado.

E mais uma vez, por cá, limitámo-nos a ir atrás do modelo.

Numa altura em que recentemente se reflectiu sobre os percursos cronologicamente similares mas qualitativamente díspares de ambos os países, vale a pena ler.

E tentar ser mais do que a horta da Europa.

The True Story of a life gone wild

>> Disco Pedido: "Treadwell No More" (Grizzly Man Soundtrack)


...e ontem a cinefilia aguda levou-me ao encontro do universo suis generis do observador-amador - a meu ver agudamente perturbado e obcecado - de ursos pardos, Timothy Treadwell.

Tão dotado de um estilo narrativo próprio, que nem sei se recomendo. A única certeza com que saí da sala foi a de concordar com estas duas opiniões:

"vocês acreditaram que aquilo era tudo real? ou não vos pareceu que alguns testemunhos eram muito fabricados?" (interpeladas pelo espectador que se esparramava, solitário, por três cadeiras na fila da frente)

“I found that beyond a wildlife film, in Timothy Treadwell’s material lay dormant a story of astonishing beauty and depth. I discovered a film of human ecstasies and darkest inner turmoil.” (uma das muitas citações-opiniões do narrador omnipresente Werner Herzog’s, durante o decorrer do filme)

Friday, November 25, 2005

Potter X 4

>> Disco Pedido: "Quando eu era pequenino"


Pois é. Eu avisei que tenho hábitos de consumo cultural à primeira vista contraditórios.



Ontem foi dia de Harry Potter e regresso à infância cinematográfica. Ou não tivessemos ido em bando, no dia de estreia, como quando éramos pequenos e alguém fazia anos. Uma noite nos antípodas de outras manifestações metidas a proto-intelectuais do umbigo, a reforçar a minha fé no ecletismo e nas coisas simples. Como a banda desenhada e os livros supostamente infantis com desenhos e histórias que os pais pedem emprestados aos filhos. Sem esquecer o hoje pedagogicamente incorrecto desespero do quase-quase-mas-nunca órfão Marco ou da desgraçadamente sofredora Candy Candy. Se calhar é por isso que o Harry Potter se está a tornar num fenómeno para adultos. Se calhar é por isso que eu cada vez gosto mais disto.
O KingCard tem destas coisas.

Thursday, November 24, 2005

Bons velhos tempos...

>> Disco Pedido: "President of what" (Death cab for cutie)


«Eu reduzi duas vezes os défices, aconselhei duas vezes os portugueses a apertar o cinto e até a perderem o 13º mês. Não estávamos ainda na União Europeia, tínhamos um défice terrível»

Mário Soares, em entrevista ao Correio da Manhã, reciclada aqui (e depois não me digam que os media não sao autofágicos. E viva a "hiperinformação" do Ramonet, viva!)


mas porquê, agora já não temos? E já agora, de que tipo de défice é que estamos a falar? Deste, ou deste?

A "cabala" continua

>> Disco Pedido: "Easier to Lie" (Aqualung)


...e se nos problemas do que era choque e se quer plano tecnológico não fossem também distribuídas culpas pelos suspeitos habituais, é que era de admirar.

Mas será que alguma coisa correr mal por estas bandas ainda é notícia? Ou por cá sinónimo do homem morder cão deve ser mesmo o facto de alguma coisa correr pelo previsto?


(...) Pedro Silva Pereira [ministro da Presidência] recusou a existência de «atritos» entre ministros em torno do Plano Tecnológico, que terão levado à recente demissão do coordenador do projecto, José Tavares, lamentando que «o problema do sistema organizativo» deste documento tenha estado nos últimos tempos «mais presente na comunicação social do que no país».


e
sta tarde, no sítio do costume

Wednesday, November 23, 2005

é a cultura. e eu sou o estúpido.

>> Disco Pedido: " Pictures in an Exhibition" (Death Cab for Cutie)






Antes do comentário que se segue, convém fazer um esclarecimento prévio, à laia da pretensa tentativa pseudo-camuflada de credibilização do comentário algo polémico para os intelectos mais sensíveis, que posteriormente e abaixo se seguirá.
Ando na faculdade. Andei num "bom colégio". E num "liceu" ainda melhor. Estive na área de economia. Mudei para o jornalismo. Passei por cultural. Vim parar à comunicação digital. Enfim, Uma Comunicação Possível, porque afinal é esta a que temos - e longe de mim a resignação mas sou avessa ao desperdício das batalhas perdidas, digamos que não tenho feitio para Manuel Alegre, e viva a alma de poeta.

Já trabalhei em teatro, fiz jornalismo durante dois anos e outros trinta mil biscates pelo meio. Estou metida em projectos culturais até à ponta dos cabelos e segundo os critérios de classificação de públicos continuo, apesar de já estar a passar a validade desta classificação, a ser do tipo "devorador". Que é como quem diz, pouco preconceituoso, que frequenta tipos ecléticos e díspares de espectáculos, performances e manifestações culturais.

Gosto de coisas que os meus amigos acham "surreais" ou então "demasiado eruditas". Gosto do que tem qualidade. E procuro reconhecê-la mesmo nos estilos de que não gosto. Acima de tudo, gosto da qualidade. O que, para mim, não implica fenómenos causadores de exclusão por proto-intelectualismos do umbigo.


Não gosto de proto-intelectualismos do umbigo. E, por isso mesmo, não gosto dos espectáculos da Monica Calle.

Porque acredito que a arte deve ser um fenómeno inclusor e não exclusor. O que não implica o seu reducionismo e simplificação bestial de conteúdo e forma, o seu esvaziamento.

Não acredito no esvaziamento associado à arte - seja esse esvaziamento de conteúdo e forma, de sentido, ou de público, no sentido da sua exclusão.


Passo a explicar. Fui ontem ver "Julieta, cartas fragmentárias a um amor perdido", uma espectáculo a cargo de Monica Calle - como de costume bem aceite/ou pelo menos neutralmente divulgada pela critica e similares - em exibição na Culturgest.

A peça consistia não só na leitura de alguns excertos do incortonável Romeu e Julieta mas também numa colagem-reflexão de textos de autores tão dispares como Emily Brontë, Charles Baudelaire, Astor Piazolla ou Ruy Bello. Até aqui tudo bem. Mas é aqui que começa o problema. No para além dos textos. Na encenação e universo conceptual construído em torno e através da cenografia, movimento e som da peça.


Imaginem quatro mulheres num palco que são simultaneamente mães e filhas, amantes e construtoras civis. Pois.

O cenário - aberto para o mundo da Culturgest por trás da peça, o que, se conceptualmente até poderá ser de louvar, a nível pragmático implicou ouvir-se senhores a gritar, conversar, rir, correr e até ver um carro a sair do seu lugar de estacionamento durante a actuação - assemelha-se ao de um local em construção, no qual, ao longo do decorrer da acção, três das quatros actrizes em palco vão construindo um muro entre si e o publico. Com direito a carregar tijolos, soldar ferros e fazer cimento. Não falta nada.

Mais uma vez, conceptualmente interessante, podendo tirar-se desta metáfora inumeras ilações, mais ou menos directamente ligadas com a peça em si e o seu texto - a construção das relações, os muros das relações, o isolamento e "bla bla bla bla bla" como as proprias actrizes diziam durante a peça - ou até mesmo da construção/divisão entre publico e actores que o teatro implica através da encenação, dos cenários.

Mas talvez pouco pragmático.

Não só devido ao pó no ar que fazia toda a plateia tossir recorrentemente, mas sobretudo pela opção estético-conceptual - que não acredito despropositada por parte da autora - de sobrepor uma leitura num inglês pouco perceptível dos excertos de Romeu e Julieta com estrondos de tijolos a serem empilhados uns por cima dos outros, ou até mesmo pelo utilizar da máquina de soldar.


Sinceramente, até posso arranjar interpretações para isto. Sempre fui perita em arranjar explicações até para o pouco aparente, diz quem me conhece bem.

Podemos encarar esta opção estético-conceptual de manter o Romeu e Julieta apenas como um ruído de fundo cujas palavras reais não necessitamos de compreender para saber do que trata, talvez como uma metáfora desse imaginário, do peso do imaginário presente e reforçado nessa e por essa obra no entender quotidiano das relações por parte da mulher. Estereótipos e ideiais românticos sempre presentes em nós, nas nossas relações afectivas, como um ruído de fundo, cuja origem se perdeu já no tempo e cuja presença já nos passa quase despercebida, não deixando, no entanto, de lá estar.


Mas sinceramente - e sim, sei que me estou a repetir, mas é propositado - SINCERAMENTE! creio que isto é conceptual demais. Para o umbigo demais. Mas o problema não é da Monica Calle. Não tenho nada contra a senhora. Pelo contrário, considero-a extremamente inteligente e talentosa.

O problema é deste fenómeno-movimento pós-moderno de um pretenso intelectualismo artístico auto-centrado. Tão presente em muitas formas de arte contemporâneas.
O problema, entenda-se, nem é tanto o seu grau de hermeticidade maior. É o facto de não haver uma explicação prévia ou póstuma, que dote o público da informação suficiente acerca da visão do autor, por forma a, através do acesso a essa informação, o público ser liberto pelo conhecimento, para reflectir sobre a obra, desconstruí-la críticamente, e construir as suas próprias visões sobre a mesma.

Sem esse grau mínimo de informação e conhecimento como veículo de liberdade de pensamento crítico para o público, o mesmo é colocado à margem do processo artístico para o qual é, no entanto, convidado, ao ser encenado ou exposto publicamente esse mesmo espectáculo/obra.


Sem esse grau de informação e conhecimento como veículo de liberdade de pensamento crítico áutonomo para o público, a arte fecha-se sobre si mesma, castrando ciclos de retro-alimentação, conhecimento e criatividade. Castrando-se, enfim, a si própria.


De referir, no entanto, que dado ser a última encenação do espectáculo, a Monica Calle esteve presente no fim do mesmo para uma conversa com os espectadores. Uma iniciativa que creio estabelecer essa ponte de informação libertadora que é a comunicação entre criador e público.

Mas para romper esta autofagia de algumas formas de encenação contemporânea, creio ser necessário mais do que uma conversa esporádica.

Tuesday, November 22, 2005

Donas de Casa Desesperadas

>> Disco Pedido: "O Fado do Estudante" (Tuna Académica de Coimbra)




Quem conhece o programa "Donas de Casa Desesperadas", POR FAVOR, levante o dedo!

Monday, November 21, 2005

Sons em trânsito II

>> Disco Pedido: "Takk" (Sigur Rós)

Ontem foi dia de universos acústicos no dealbar do onírico.
E no princípio era o som. Da luz fez-se imagem e no delírio Sigur Rós. Música. Plataforma de sensações.




Isto pelos vistos pega-se.

>> Disco Pedido: "Write In C" (geek version of The Beatles classic "Let it Be")

Confirma-se, tenho o meu quê de geek. Ainda que só tenha lido três da lista, são precisamente os três primeiros. Quem nunca folheou nenhum que levante o dedo.

1. The HitchHiker's Guide to the Galaxy -- Douglas Adams 85% (102)
2. Nineteen Eighty-Four -- George Orwell 79% (92)
3. Brave New World -- Aldous Huxley 69% (77)
4. Do Androids Dream of Electric Sheep? -- Philip Dick 64% (67)
5. Neuromancer -- William Gibson 59% (66)
6. Dune -- Frank Herbert 53% (54)
7. I, Robot -- Isaac Asimov 52% (54)
8. Foundation -- Isaac Asimov 47% (47)
9. The Colour of Magic -- Terry Pratchett 46% (46)
10. Microserfs -- Douglas Coupland 43% (44)
11. Snow Crash -- Neal Stephenson 37% (37)
12. Watchmen -- Alan Moore & Dave Gibbons 38% (37)
13. Cryptonomicon -- Neal Stephenson 36% (36)
14. Consider Phlebas -- Iain M Banks 34% (35)
15. Stranger in a Strange Land -- Robert Heinlein 33% (33)
16. The Man in the High Castle -- Philip K Dick 34% (32)
17. American Gods -- Neil Gaiman 31% (29)
18. The Diamond Age -- Neal Stephenson 27% (27)
19. The Illuminatus! Trilogy -- Robert Shea & Robert Anton Wilson 23% (21)
20. Trouble with Lichen - John Wyndham 21% (19)

Sunday, November 20, 2005

A Cabala de La Palisse

>>Disco Pedido: "Portugal, Portugal" (Jorge Palma)


Eu bem tento. A sério que tento.

Acordo com boas intenções, que rapidamente transformo em acção pragmática, porque das outras já sabemos que está o Inferno cheio, e Portugal também. Por isso mesmo, dia após dia, saio de casa e compro o jornal - regra geral mais em plural que em singular. E apesar dos títulos e notícias em 75% dos casos dificilmente consideradas relevantes do ponto de vista do esclarecimento e informação acerca da campanha eleitoral, não desisto. Seja por ser optimista demais, ou pura e simplesmente porque render-me a acreditar que esta é a imprensa e o país que temos, insisto em procurar noutros lados. Até porque a crítica deve ser sempre informada, pelo menos, no meu entender, o que já não parece acontecer no que toca às presidenciais.
Sendo assim, sento-me ao computador e abro o Diário Digital. Procuro a secção de política. E deparo-me com uma colecção de títulos que se assemelham ao que, no delírio febril da minha imaginação, creio que seria uma cobertura da Caras notícias acerca das eleições que se avizinham. Cada um propondo a sua pequena cabala mais ou menos explícita. Regra geral tão óbvias que, enfim, assim que os leio só me vem à cabeça a expressão "de La Palisse". Vejamos:




Verdade seja dita, não atribuo culpas aos Meios de Comunicação Social. Sou contra a lógica de cabala instantânea nacionalista que varre o país de lés-a-lés e transversalmente a nível sectorial instruíndo-nos em caso de dúvida, a acusar os Media. Sejam os derrotados das autárquicas - ou até alguns vencedores - os actuais presidentes em campanha, a "opinião pública" personificada no inquérito (regra geral pouco digno desse nome do ponto de vista da sua construcção cientifica) a uma ilustre personagem de rua, ou qualquer indiciado por razões díspares trazidas à praça pública, mais ou menos ilustre.

Por isso mesmo, se a cobertura destas presidenciais se tem dedicado mais a entreter do que a esclarecer, não culpo, necessariamente, os media. Tudo deriva de uma complexa rede de fenómenos socio-culturais. E como deixa entender Letria em "A Verdade Confiscada", os Media estão hoje, na maioria dos casos, mais para tigres de papel do que para cães de guarda/quarto poder.

Culpar os Media é a solução fácil. Até porque dificilmente exercerão uma resposta concertada. Até porque dificilmente poderiam dizer - sem incorrer em grave quebra de confiança e do contrato social implícito que estabelecem com a sociedade - "isso não é bem assim". Até porque dificilmente deixarão de cobrir e noticiar (pseudo) acontecimentos encetados por autores das acusações. Têm que se reger pela suposta lógica do interesse público, e ainda que esta se confunda cada vez mais com a de interesse DO público, um blackout à boa moda dos clubes desportivos implicaria uma grau de concertação entre os diversos grupos que dificilmente aconteceria. Até pela referida razão do "interesse publico", como bandeira da profissão.

Mais do que hábito tornou-se moda falar nestas e noutras cabalas. Nunca esta palavra esteve tão em voga na língua portuguesa. Penso que já é tempo de, das duas uma: ou a classe política, mais concretamente os candidatos presidenciais, dedicarem a quantidade significativa de tempo de antena de que usufruem para debater questões concretas que visem, de facto, o esclarecimento do eleitorado, e não a perpetuação desta versão pós-moderna e em directo de "As Farpas"; ou então resta-nos incluir no diccionário, sob o termo cabala, uma nova definição.

Cabala - substantivo feminino; "prática de atirar areia para os olhos relativamente às questões públicas ou acusações legais de que um seja alvo, regra geral associada a uma lógica de culpabilização dos media ou de um outro actor ou grupo político"; "requisito de acesso à carreira política em Portugal"

Saturday, November 19, 2005

Jinglé Béle Jinglé Béle Parte II

>> Disco Pedido: "Fuck Christmas Baby, I've got the blues" (The Legendary Tiger Man)




Thursday, November 17, 2005

Crónicas de uma crise anunciada II

>>Disco Pedido: "Foram Cardos Foram Rosas" (voz de Manuela Moura Guedes com o PS na guitarra)


Coordenador do Plano Tecnológico demitiu-se

José Tavares apresentou demissão da Unidade de Coordenação do Plano Tecnológico, cinco meses após ter sido escolhido por Manuel Pinho para liderar esta aposta do Governo de Sócrates.


Segundo avançou a Antena 1, o gestor terá apresentado a demissão ao ministro da Economia esta quinta-feira. O Diário Digital procurou, sem sucesso, obter um comentário à notícia junto do gabinete do ministro Manuel Pinho.

De acordo com o noticiado, ainda não se conhecem as razões oficiais da saída do actual responsável pelo projecto apresentado como bandeira do PS nas últimas legislativas.

No entanto, já foi objecto de notícia na imprensa alguma tensão nas relações entre os Ministérios envolvidos no projecto (Ciência e Tecnologia vs Economia).

José Tavares tinha tomado posse em Junho a convite do ministro da Economia, Manuel Pinho, e o Plano Tecnológico deveria ter sido apresentado até ao fim de Outubro.

17-11-2005 12:33:09 in Diario Digital


Aceitam-se comentários.
Candidaturas é que provavelmente não... Ou talvez sim. Talvez amanhã em vez de acordar com um choque tecnológico acorde com um comunicado do PS: "O Governo congratula-se pela abertura de novos cargos. Dos 150 mil empregos, já so faltam 149.999".


Wednesday, November 16, 2005

Sons em trânsito I

>> Disco Pedido: "Bend in the road" (Donavon Frankreiter)



Depois de little bird boy/girl Antony, hoje é dia de Beach Boys pós-modernos:



Saturday, November 12, 2005

Jinglé Béle Jinglé Béle Parte I

>>Disco-Pedido: Jingle comercial d'A minha Agenda (trá lá lá lá lá)


O frio traz a chuva (leva os chapéus)
e o vento as folhas
cheiro de Outono
sabor a Natal

das estrelinhas
das contas-ideias
delirantes
diferentes
cor-de-rosa
pomar
verde ervilha
iguais
desiguais
feitas de sol
ou de trapos
mas sempre
justas.


Run Away from Christmas
Up Up and Away



A minha Agenda, para quem começa já a pensar "para o natal a minha prenda eu quero que seja"

Tuesday, November 08, 2005

Crónica de uma crise anunciada

>> Disco Pedido: "Emigrante, emigrante" (EnaPá 2000)


Food for Thought:


- Portugal é o país da Europa onde ser verifica o maior fosso entre ricos e pobres

- as 100 maiores fortunas nacionais constituem 17% do PIB

- 20% dos mais ricos representam 45,9% do rendimento nacional

-1 em cada 5 portugueses vive no limiar da pobreza (21% da população total)

-12.4% da população activa (5531.6) ganha o salário mínimo nacional (374,7€)

-7,2 % da população activa está desempregada; 55% são mulheres

-26,3% dos reformados recebe menos de 200€/mês de reforma

-147 332 recebem o Rendimento Social de Inclusão (151,84€)

- em 2003, 69% dos beneficiários do Rendimento Social de Inserção, eram mulheres

-79,4% da população activa não terminou o ensino secundário

-300 mil famílias (8% da população) viviam, em 2001, em habitações sem condições mínimas

- Os homens auferem salários em média 9% superiores aos das suas congéneres femininas

Fonte: relatório publicado em Outubro de 2005 pela Oikos



Entenda-se, o problema não é o salário de que a senhora aufere. Sou apologeta da remuneração adequada às responsabilidades das funções, habilitações e experiência dos funcionários. Acredito que a maioria dos licenciados são, mais do que mal-pagos, sub-pagos. Isto é, quando têm sequer a sorte de ser remunerados. De aumentar a fileira cada vez mais revoltantemente monstruosa das pessoas com habilitações superiores que auferem menos de 750 euros por mês; ao invés de se acumularem aos números pouco conhecidos mas que, por experiência e observação concluo provavelmente ainda mais impressionantes do sub-emprego que afecta esta franja da população que ainda opta por estudar. Longe de sermos um país de doutores - como o diz que disse geralmente diz - somos um país em que mais de 75% da população não terminou sequer o ensino secundário. Onde, no admirável milénio novo, o analfabetismo ronda ainda os cerca de 9% (dados de 2001 - oikos).

No entanto, a possibilidade de arranjar um emprego digno de tal designação, onde a remuneração corresponda a mais de dois salários minimos efectivos, parece cada vez mais inversamente proporcional ao grau de habilitações académicas. E se os requisitos de entrada no mundo profissional se acumulam - experiência anterior em funções similares, licenciatura, conhecimento de várias línguas estrangeiras, dominio de novas tecnologias etc etc - a esta escalada de exigências não corresponde - antes pelo contrario - uma escalada na remuneração de quem as possui, face a décadas anteriores.

Não critico o elevar dos padrões. Creio que este é, aliás, cada vez mais necessário. Não critico sequer o salário - até por não conhecer o curriculum vitae da senhora - de que aufere a nova assessora. Critico sim a situação de precaridade em que vivem cada vez mais recém - e já não tão recentes assim, uma vez que é frequente encontrarmos pessoas licenciadas há mais de três anos com salários que rondam os 750 euros mensais, desempenhando funções de responsabilidade e prestígio, praticamente isentas de horário - licenciados.

Este não é o caminho para a elevação de competências da população enquanto todo. Não é o caminho para o futuro. Quer individual, daqueles que após 4,5,6 anos de estudo se vêm, na sua vasta maioria, privados da possibilidade de adquirir uma casa, de suportar uma vida independente, sem auxílio de outrem - regra geral as famílias em condições para o fazer - quer colectivo. De cada um e do país.

A comprovar isso mesmo, estão os resultados recentemente publicados por outro estudo internacional que demonstram que cerca de um quarto dos licenciados portugueses opta por emigrar em busca de melhores condições de vida.

Em contrapartida, recebemos imigrantes maioritariamente não qualificados.

O saldo da balança nunca poderá ser positivo. Mais - e não nego a sua importância pois acredito num modelo de sociedade multi e intercultural, à semelhança do Canadiano - do que políticas que visam auxiliar os que para cá vêm, creio ser já tempo de auxiliar também os que cá estão e querem ficar.

Ao invés de adiar reformas, deve-se apostar numa juvenilização dos quadros, em carreiras etápicas progressivas que permitam uma reciclagem de quadros empresarias e institucionais, já utilizados - com enorme sucesso - por tantas firmas privadas. Criar políticas de ingresso que visem criar condições de permanência no seu país de origem àqueles que apostam na educação académica e profissional. E não programas de estágio - soluções temporárias para camuflar a realidade das estatísticas dos jovens qualificados no desemprego.


Caso contrário cada vez teremos mais Lindas de Suza - que em vez da mala, carregam consigo para fora do país o nosso capital intelectual, sob a forma de canudos de cartão.

Monday, November 07, 2005

e-cultura, estupido!

>>Disco Pedido: "Atrapados en la Red" (Estopa)


Ciclo Falar de blogues (2)

Organização: José Carlos Abrantes e Almedina


Quando e como nasceram os blogues em Portugal? Como evoluíram? Em que terrenos se têm afirmado? Que evoluções são previsíveis?

Catarina Rodrigues, mestranda em Ciências da Comunicação (da organização do 2.º Encontro de Weblogs).
António Granado, autor do blogue Ponto Media. Jornalista do Público.
Joana Amaral Dias, co-autora do blogue Bicho Carpinteiro.
Rogério Santos, autor do blogue Indústrias Culturais. (Meu) Professor na Universidade Católica.


Dia 10 de Novembro, às 19:00 horas
Livraria Almedina
Atrium Saldanha, Loja 71, 2.º Piso Lisboa


apareçam e falem vocês também.

Sunday, November 06, 2005

Proletariado urbano-chic

>> Disco Pedido: Telegrama.Stop (wordsong)


Não me recordo qual foi o poeta americano ou inglês - e a diferença que habitualmente medeia entre uns e outros mede-se do Earl Grey para o Big Gulp - que nos recomendava a urgência de perdermos alguma coisa todos os dias.

Das chaves a um rio ou até mesmo um continente, enumeráva-nos a distância dos objectos, lugares e sentimentos que se perdem como quem tenta transmitir-nos - e através disso talvez convencer-se a si mesmo - a essência libertadora da perda. Das possibilidades que se abrem pela quebra do quotidiano lufa-lufa pré-programado "é das nove às cinco um dia apressado vai ser sempre abrir com Nestum sempre a meu lado" despoletado pela introdução do elemento disruptivo - em maior ou menor grau - que é a perda. Relembra-nos a impossibilidade do total e constante controlo sobre nós mesmos. Até porque "yo soy yo y mi circunstancia", já diz o by now clichet de Ortega Y gasset, e tudo é composto de mudança.

Mas nunca fui muito de perder as chaves-ai-que-estupida-agora-vou-ficar-na-rua; papéis-é-sempre-a-mesma-coisa-alguém-mexeu-na-minha-secretária ou sequer chapéus-de-chuva-nao-acredito-que-vou-apanhar-uma-molha. Acontece que mesmo até ao mais célebre control-freak o inesperado acontece. Porque a vida não pára de nos acontecer, fiquei sem carro nas últimas semanas. Não que o tenha perdido. Mas enfim, a perda não tem que ser concreta, pode sempre ser mais simbólica. Ou neste caso incómoda - perdi os privilégios do carro em virtude do seu estado comatoso.

Tornei-me assim mais uma forçada commuter no chega-para-lá, tira-o-bilhete-guarda-o-bilhete-e-volta-a-tirar-que-o-de-dez-viagens-é
-mais-barato, quotidiano do metro alfacinha (com síndrome de toupeira, a julgar pelo ímpeto com que esburaca a cidade nos últimos tempos). E não é que isso serviu para concluir que o tal poeta até tinha razão? Não que não soubesse. Mas Às vezes precisamos de nos confrontarmos forçosamente com as coisas para nos relembrarmos delas. A perda do carro libertou-me para a descoberta de umas quantas coisas novas, ou que, pelo menos, já não fazia há muito tempo.


Como imaginar as vidas das pessoas que habitam as gavetas de cada prédio. Ou que se cruzam comigo na estação.

Como calcorrear mais uns metros diários a pé - e, não obstante as chuvadas que traz o inverno, ou o frio que acompanha o cheiro das castanhas - redescobrir esse prazer tão revoltantemente simples de olhar lisboa.

Como descobrir os novos fenómenos urbanos. Como o proletariado urbano-chic.
- tem carro mas anda de metro
- anda de metro mas leva o Ipod
- leva o Ipod mas nem por isso não lê o jornal
- lê o jornal mas ouve música
- ouve música mas lê.
Logo pela manhã. Quando começa o dia.
Porque tem tempo. No metro. Porque perdeu o carro.

E já repararam quão rapidamente as comodidades se nos apegam por dentro, passando a dependências?

Mais que tudo, já repararam como as pessoas que habitam a cidade estão a ficar diferentes?

Ás vezes, se as observar de olhos semi-cerrados, em certas zonas, até parece que estou em Madrid.

Sinais de civilização para além da crise.

Saturday, November 05, 2005

"Natal Avant-garde avant du temps"

>> Disco Pedido: "O que eu quero é o teu corpo e o teu sexo"





...só para líbidos pós-modernas



Gentleman
>>>
Imagine a connection with your lover...You command her arousal from afar.Imagine The Toy...Monday morning - she leaves with The Toy inside...She's given you the power - You alone control The Toy. Teasing her with single word messages. Frustrating her with smouldering long fantasies. No matter how many text messages she gets today, Yours are the ones she really, really WANTS!
Imagine the thrill of sending a sexy fantasy knowing she's in a meeting. Setting the scene for tonight throughout the day. Foreplay for later...
Imagine the desire in her eyes when you meet again
Imagine the power, the control
Imagine her fire and the devastating passion...


Roll on Monday morning!


Ladies
>>>Imagine a connection with your lover...A sexy physical connection that stretches across the planet
Imagine The Toy...
Imagine a dreary Monday morning Work as usual, then you remember The Toy... we have The Toy!
Imagine leaving for work, The Toy in place
Imagine the thrill of receiving a message
Imagine the hunger for that first one...oh, the antici...pation!Beep beep! - there it is, a new message...Your heart races as you read his sexy words. You know he is thinking only of you. The toy bursts into action, sensation ripples through your body. Flushed, you look around, has anyone noticed?
No, no-one knows your secret...Then The Toy stops...
Imagine wanting more... NOW!
Imagine waiting for his next text. The arousal, the ache to be together again
Imagine what will happen tonight...

Monday morning will never be the same...

Thursday, November 03, 2005

Querido Pai Natal...

>>Disco-Pedido: "Material Girl" (Madonna)


This Christmas...





Tuesday, November 01, 2005

A minha vida não dava um livro

>> Disco-Pedido: Abertura da Coxinha do Tide



...eu estou mais para folhetim. Romance de cordel deslavado capaz de arrancar os suspiros trancados nos púdicos peitos das meninas de anteontem, que ontem deram lugar às da rádio e hoje às que pouco de meninas têm na Tv.

Mas os enredos são ainda e sempre os mesmos: amores e desamores, filhas abandonadas, traições, confusões e Escravas Isauras mais ou menos pós-modernas. Como nós, levadas ao epíteto do extremo. Mulher-a-dias somos todas, já lá diz a minha irmã. Ao que eu acrescento que quem nasce para Olívia Empregada nunca chega a Olívia Patroa. Quanto muito conseguirá saltitar até Coxinha do Tide.

A minha vida não dava um livro. Como talvez dêem poucas. Já não há finais felizes e hoje as princesas morrem no fim. Ser-se politicamente correcto torna os sonhos - e a escrita- mais difíceis. Regressemos então ao folhetim já com banda-sonora: a radionovela mal gravada, capaz de nos fazer saltar de emoção na beira de uma cadeira periclitante suspensa num universo que para além do nosso se alimenta só da palavra: imaginação.

Eu estou mais para rádionovela. Daquelas com direito a patrocínio de detergente e tudo. Porque a vida é isto. E branco mais branco não há.

Powered by Blogger