Friday, March 31, 2006

Teoria Crítica

Descobri que não gosto de pós-modernistas. Parece-me inútil ter por crença central o não crer em coisa nenhuma.

Não crítico a ausência de fé. Seja na vida, nas coisas, nas pessoas ou num vislumbre de um deus. Critico a fé na impossibilidade de crer na verdade do que quer que seja.

Por mais inverosímil que seja a crença, é a esperança que traz de pé a condição humana.

Thursday, March 30, 2006

A minha Agenda #1 de Abril

Dia 1 de Abril vou concretizar a minha esquizofrenia estético-músical e desmultiplicar-me em vários eus para:

>> andar à almofadada durante 10 minutos no Rossio, em jeito de stress-therapy pós-moderna

>> ir ao Maxime regozijar-me e rir-me, porque não, com o José Cid
>> me comover com a desgraçada da Cabíria, pêga mal-amada levada ao ecrã por Fellini
>> ouvir vozes que lêem as imagens das letras de Pasolini
>> espreitar os avanços electro-epilépticos do renovado Souk
>> voltar aos anos 60
>> e dançar disco-style no quarto ao lado do studio 54

e não, um programa destes não é mentira. Só um alegre sinal dos tempos que me faz ter esperança cultural na heterogeneidade fashion inclusive kitsch.



Wednesday, March 29, 2006

Avisos à navegação #1

acreditar que a facilidade da escrita deverá ser inversamente proporcional à confiança que nessas palavras depositarmos é agrilhoar políticamente a preconceitos a criatividade.

Concordo que a derrota produz Arte.
Não que a Arte apenas poderá ser produzida na dificuldade da derrota.

A essa deveremos dar o nome auto-explicativo de crítica literária:
a arte que sobra da derrota da criatividade.

My very own backyard revolution

Hoje apetece-me criar um civil movement of unrest.
Não, a vontade não morreu quando saí de cama.

Por isso tenho a dizer que o singelo e parco poder de expressão deste blog entra hoje em modo pró-revolucionário e anti-establishment no que à nova lei do primeiro contrato de trabalho francesa diz respeito. E convida-vos a fazer o mesmo. Mais que não seja para tentar prevenir que o nosso Simplex governo se saia com um novo pacote: Borlex, Escravlex ou por aí fora, consagrando constitucionalmente o que na realidade doméstica já é prática comum no que ao primeiro emprego diz respeito.

A China capitaliza-se, a América sai imperiosamente do armário, o Canadá extremiza-se e a França deita a Revolução da mesma nacionalidade para o caixote do lixo.

Se continuamos assim, qualquer dia acorda-se, e já não se sabe qual mundo é qual: se o terceiro, se o primeiro.
Ainda que isso não seja nada a que nós por cá não estejemos habituados...

Tuesday, March 28, 2006

Cerca dos Pomares (Longing For)

quero o cheiro na pele da árvore centrada em jeito de quadro, ali entre o portão de pedra, ao fundo da languidez fresca do princípio de tudo, logo pela manhã.

One down, 9 million and 899 thousand to go

Selecção
João Paulo Guerra

Existem 100 mil portugueses fundamentais, um por cento da população, o resto são figurantes.

O anúncio foi feito pela sub-directora-geral da Saúde, ao revelar que serão esses portugueses "fundamentais para o País" que vão receber anti-virais em caso de pandemia provocada pelo vírus da gripe das aves. Não se sabe que rótulo merecem os outros 99 por cento da população, mas possivelmente serão portugueses desnecessários, descartáveis. E embora a autora da expressão tenha explicado que "indispensáveis" são os "portugueses necessários" para "manter o País a funcionar", é bem natural que pairem à volta do critério muitas suspeitas, pela experiência de que portugueses de primeira e os outros se distinguem por critérios de privilégio, favor e clientelismo. Por exemplo, indispensável poderá ser a "boysada" que gere o aparelho do Estado.


A expressão da funcionária - certamente uma portuguesa "indispensável" - levanta outras questões. A primeira é a dúvida sobre a constitucionalidade da rotulagem. A segunda é que, apesar de todas as cautelas anti-alarmistas, existe de facto uma ameaça sobre a qual os portugueses descartáveis não estão a ser informados. Pelo contrário.

Tudo isto é revelador da desumanidade que caracteriza hoje o exercício do poder. Já houve tempos em que, em situação de perigo, se salvavam prioritariamente as crianças, as mulheres e os velhos e o capitão era o último a abandonar o navio. Agora salva-se quem puder, isto é, os que têm o poder de arranjarem, para si próprios e para outros "fundamentais", lugares no salva-vidas.

À luz desta filosofia, uma pandemia até pode ser bastante positiva para a sustentabilidade das finanças públicas: livra o País de uns milhares de portugueses não fundamentais, velhos que nunca mais morrem ou crianças que ainda não contribuem. Sempre é mais democrático que mandá-los para câmaras de gás.

Diálogo

não conversas. da boca sai-te só essa verborreica náusea de palavras emprestadas todas as manhãs.
não sentes o prolongamento de ti no outro.
não conversas. apenas falas, no acto mecânico da respiração.

Falas devagar.
respiras devagar.

nem demais
nem de menos.

apenas a quantidade exacta e milimetricamente necessária ao gesto repetido dessas palavras cansadas.

conheci-te a vida toda, a adiares-te nessas mesmas palavras.

e o mundo com que as podias construir
dilui-se agora,
embaciado,
nelas.

Monday, March 27, 2006

Pleonasmo

"circo das celebridades" - e nunca o nome de um programa me pareceu tão apropriado.

Miss Dorothy Grows Up

os passos apressadamentes desviados dos restos de chuva morta, espelho dos teus gestos. Esses passo quotidianos e fúteis e tributários que aprendeste a dar e agora tentas contrariar, como a chuva.

Abrindo o chapéu furiosamente encarnado, sob o qual esses teus passos esguios e furiosamente repetidos todas as manhãs se sucedem num tropeço de orações por cumprir, desapareces na madrugada de cheiro cinzento e húmida raiva entorpecida sob os teus pés. E levas os sapatos vermelhos, sob a dor desse abrigo de sangue. E levas os sapatos vermelhos, e só isso se vê. Levas os sapatos vermelhos, e a cada passo rezas pela tua estrada de tijolos amarelos. Por isso levas sempre os sapatos vermelhos, já tão gastos.


Mas a cada passo continuas, de puídos sapatos vermelhos, a bater com os calcanhares, sem que ninguém o note, a não ser eu.

Friday, March 24, 2006

Livro de Estilo #3

"open-space" = peep-show organizacional

Para quem ainda precisa de razões para se render aos open-source...


...aqui fica mais uma.

Thursday, March 23, 2006

Rir sozinho no trabalho

"Even more ironic is that Microsoft has ginned up a new slogan, "People Ready," which apparently is meant to describe its software, or maybe it describes companies that use its software, or whatever. Who knows? It's one of those phrases that means anything, and so means nothing. Who makes this stuff up? Do they actually pay this person? And is Microsoft just figuring out now that its programs are used by--gasp--people?

Microsoft execs also talked about "Impacting People," then they dragged out fashion designer Tommy Hilfiger, who seemed very "impacted" as he sang praise for Microsoft programs. Actually, he was reading meaningless statements from a TelePrompTer. Here is one of his quotes, verbatim: "When you combine people and technology, you have a very powerful combination." Think about that. Just let it sink in for a minute."
Vale a pena ler mais.

Wednesday, March 22, 2006

Livro de Estilo #2

"Trabalhar" - é ir para o concerto de Jack Johnson de sapatinho cinderela, calcita de fato versão short metida a workaholic fashion e pulular assim alegremente ao ritmo da musiqueta numa estética deslocada de um pavilhão geração Morangos com Açúcar.

Livro de Estilo #1

"Trabalhar" - é ser tratada por senhora durante a semana, e por tu ao fim-de-semana

Saturday, March 18, 2006

"Torture, torture: It pleasures me!" Ed Wood


um festival underground-optimista
cujo principal objectivo consiste em aproveitar o lado bom
do que existe de pior.

Sunday, March 12, 2006

O problema de estar doente

é que todos os dias da semana se assemelham ao mesmo longo e tedioso serão de Domingo.

(e o desta noite teve o seu auge ao som da pouco maviosa voz de alguém a cantar "Jesus Cristo" do Roberto Carlos. A morte parece-me menos dolorosa. Pelo menos é inaudível....)

A ausência

não é o Vazio. Mas antes a indelével presença daquilo que nos fica.

Dúvidas Pessoais

A crise de quarto de século começa a anunciar-se, ironicamente, na sala. Hall de entrada de decisões?

Fica a sondagem Pessoana: por essa altura queriam-me casada, quotidiana, fútil e tributável?


Aceitam-se respostas em jeito de analepses freudianas ou complexos de Madame de Bovary para o sítio do costume.

Friday, March 10, 2006

A saudade

é só esta falta de coisas improváveis. Dá um passo atrás, na distância, se quiseres aprender a vê-las.

Sem comentários


...a não ser a subscrição dos que seguem acima
e esta triste certeza de que isto só vai contribuir para aumentar as vendas da GQ.


Wednesday, March 08, 2006

o limite da hermenêutica

Como é que se ensina a alguém a Liberdade?

Alfabetos

Podiamos falar a mesma língua.
Mas mesmo na mesma Língua, as palavras nem sempre têm esta mesma distância.

Tuesday, March 07, 2006

Da crise, com uma manifestação à porta

A crise é este cheiro a Abril que nos assalta os sentidos, despertos na agudeza da necessidade.

Do comodismo, com uma manifestação à porta

A liberdade de nos manifestarmos é inversamente proporcional à quantidade de pessoas dispostas a levantarem o rabo do sofá para fazê-lo.

A Cartilha...

...ensina-nos, na lição desta semana, a letra "I".

De Indignação.

a Lei de Miffy

diz que a realidade na origem da ficção da Lei de Murphy, não é outra senão a improbabilidade estatística que a sua vida demonstra em teimar ser a desagradável excepção à regra.

Nos últimos 7 dias:

- apanhei uma virose importada. Em vez dos desportos de inverno fiquei fechada num apartamento do demo desprovido de outro passatempo que não o de espirrar graças à minha alergia ao pó.

- arrastei quilos de malas para realizar um vôo de 2 horas ao qual se seguiram mais de 4 em três autocarros

- discuti com a Europcar por ter um monovolume e não uma carrinha capaz de transportar a bagagem de 7 pessoas à nossa espera

- enervei-me

- voltei-me a enervar

- deram-me um par de skis com 10 cms a mais. So me apercebi depois de dar um tralho monumental logo no primeiro dia

- trocaram-me os skis por uns de qualidade no minimo duvidosa


- esperei diversas horas numa clinica perdida nos alpes para ser atendida por medicos e enfermeiros com quem tive de comunicar em versão pictionary (tentem la explicar sintomas de virose em francês antes de se espantarem com a dificuldade de comunicaçao - aldeia global uma ova!)

- gastei mais de 150 euros em medicamentos (que ainda tenho de estar a tomar) e 100 na consulta

- esperei, com febre, e varios graus abaixos de zero, por voltar a apanhar um dos dois autocarros necessários para chegar ao aeroporto

- aturei uma viagem de mais de duas horas durante a qual uma francesa se banqueteou com tudo o possivel e imaginario, inclusive um queijo de cheiro so comparavel ao da outra compatriota dessa senhora que veio descalça no autocarro à ida para os Alpes, resultando no enjoo e consequente desagradavel momento de regurgitacao de uma das nossas companheiras de viagem

- troquei de autocarro, arrastei as malas, carreguei os skis as costas

- novamente cerca de doze horas sem comer

- cheguei ao aeroporto

- esperei mais de cinco horas pelo meu voo

- esperei que a hospedeira de terra do check-in percebesse que em vez de empurrar a mala a tinha que deitar para a conseguir fazer passar

- voltei a tirar o computador da mala, tal como À ida para os Alpes, para os cuidadosos seguranças poderem verificar que o meu portatil nao tinha nada de suspeito a nao ser trabalho que permanece por fazer

- fui alegremente apalpada pela segurança

- embarquei

- iamos levantar

- não levantámos

- tivemos uma avaria

- que afinal não era avaria nenhuma

- mas foi preciso desembarcar, servirem-me um jantar composto de baguettes de queijo ou fiambre, que no meu caso se resumiu a dois iogurtes destinados aos petits enfants, dado que sou alergica ao primeiro e vegetariana no caso do segundo; contactarem a manutenção em lisboa, esperarmos cerca de quatro horas, voltar a embarcar NO MESMO AVIAO, rezar a todos os santos e coisas possiveis e imaginarias reais ou nao, ultrapassar uma turbulencia do demo, para finalmentente chegar à Portela.

- chegados a casa, poucas horas de sono e febre depois, a seguir ao almoco, a minha avó teve de ser internada.

Expostos os factos, permanecerão cépticos acerca do facto de eu ser a viva inspiração da Lei de Murphy?

viver todos os dias cansa

Caiu ao chão e quebrou-se.
esta luz muito branca, que representa sempre o princípio de tudo.

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